Doar sangue é um gesto nobre, decisivo para salvar a vida de pacientes nas mais diversas situações. Quando se trata de cirurgia oncológica, a ação é ainda mais necessária, por envolver procedimento de alto risco, com mais chances de sangramento em relação àquelas feitas por causas benignas.

O protocolo para uma cirurgia oncológica indica a reserva de duas bolsas de sangue. Isso não significa que elas serão usadas, é uma questão de segurança. No entanto, há situações com sangramentos mais fortes e difíceis de controlar que demandam o uso de até cinco bolsas, por exemplo.

A doação de sangue também é importante para outros momentos do tratamento de câncer, já que procedimentos como a radio e a quimioterapia podem exigir a transfusão para repor células perdidas da medula, além de corrigir anemias e a coagulação do sangue.

Para quem doa, o procedimento é simples e consome pouco tempo do dia (no máximo, duas horas na primeira doação). A doação pode ser feita por grande parcela da população. Basicamente, todas as pessoas com idade entre 16 e 69 anos, que pesem mais de 50kg e em boas condições de saúde podem ser doadoras.

Apesar da facilidade, menos de 2% da população brasileira doa com regularidade, enquanto a meta da Organização Mundial da Saúde é que 3% a 5% da população tenha o hábito. Por aqui, o mais comum é que as doações sejam feitas apenas quando algum parente ou amigo vão passar por alguma cirurgia, para repor o sangue que será utilizado.

Por isso, os bancos de sangue do País operam sempre em estado de alerta, com seus estoques no limite. Em pouco mais de um mês, o risco de falta de sangue volta a subir com as férias de julho, momento em que as pessoas estão mais distraídas com viagens e passeios.

Mas se é algo tão simples e possível para tantas pessoas, por que ainda se doa tão pouco sangue no Brasil? Trata-se de uma mistura de fatores: falta de informação, de motivação e falta de tempo para se deslocar até o banco de sangue, entre outros.

A solução está em trabalhar diariamente para incluir a doação no hábito dos brasileiros. É um trabalho com resultados a longo prazo, mas que precisa começar a ser feito com urgência, por meio de campanhas educativas e que convoquem a população a doar. Datas como o 14 de junho, Dia Mundial do Doador de Sangue, são fundamentais para dar início a essa transformação, que precisa ser estendida para o ano todo.

Gabriel Chaar é cirurgião oncológico do Hospital Evangélico de Vila Velha